O Milan começou a década de 1980 disputando a segunda divisão italiana, manchado por um escândalo de corrupção. Mas o fim daquela década mostrou ao torcedor rossonero um dos maiores times da história do futebol, o Milan de Arrigo Sacchi.
Tudo começou quando Silvio Berlusconi assumiu a presidência do clube, iniciando um reinado que duraria muitos anos. O polêmico dirigente, que assumiu ainda em 1986, teve a coragem de levar, em 1987, o técnico Arrigo Sacchi ao clube.
Inspiração holandesa
Para começar a revolução no San Siro, Sacchi foi o revolucionário que Berlusconi queria. Ao contrário da maioria dos clubes italianos, que seguiam o catenaccio, forma de jogar defensiva praticada no país, Sacchi comandou o Parma em um 4-4-2 de muita movimentação, implantando o sistema em San Siro.
O técnico queria que seus jogadores se comportassem em um mesmo ritmo, como uma espécie de unidade em campo. O movimento de um era fundamental para a mudança posicional do outro. E a bola tinha todo o valor... Sacchi adorava o futebol total de Rinus Michels, e fez sua própria mágica em Milão.
Sacchi não tinha apenas como referência o Futebol Total da Holanda, com mudanças posicionais a todo momento, ataques rápidos e domínio sobre o jogo. Recebera, também, grandes artistas holandeses, como Marco van Basten, Frank Rijkaard e Ruud Gullit.
Com a trinca holandesa, e uma defesa que tinha Franco Baresi, Carlo Ancelotti, Roberto Donadoni e Paolo Maldini, o Milan dominou a Europa e o mundo.
Início arrasador e sequência histórica
Nove anos após ter conquistado o último título, o Milan, na primeira temporada de Sacchi, superou o Napoli, de Maradona e Careca, para voltar a ser campeão italiano em 1988.
O início arrasador não diminuiu a fome de vitórias do time. Muito pelo contrário: o Milan só fez evoluir nas temporadas seguintes e se tornou um dos grandes times da história do futebol.
Na temporada 1988/89, o Milan fez uma Liga dos Campeões simplesmente mágica. Após certo sofrimento para eliminar Estrela Vermelha e Werder Bremen, o Rossonero conseguiu um verdadeiro massacre contra o Real Madrid.
Em San Siro, Marco van Basten, Ruud Gullit, Frank Rijkaard, Ancelotti e Donadoni enfiaram cinco bolas nas redes de Buyo em um dos maiores massacres entre gigantes da história da Champions.
O show se manteve na decisão: um incontestável 4 a 0 em cima do Steaua Bucareste, colocando de joelhos o craque Hagi e subindo ao topo da Europa.
Ainda em 1989, o Milan conquistou a Supercopa da Europa e o Intercontinental. O sucesso internacional, com um futebol-arte, se repetiria na temporada seguinte.
O grande embate na campanha do bicampeonato da Europa foi na semifinal, contra o Bayern. A classificação só veio com o critério do gol fora de casa, marcado já na prorrogação por Stefano Borgonovo, herói improvável que saiu do banco para colocar o Milan em mais uma final.
Com fome de título, o Milan foi bicampeão da Europa com vitória sobre o Benfica, de Ricardo Gomes e Aldair, com gol do holandês Frank Rijkaard na decisão de Viena.
Campeão novamente da Supercopa da Europa, o Milan encerrou o ano de 1990 em Tóquio. No Japão, sob a arbitragem do brasileiro José Roberto Wright, o Rossonero passou fácil pelo Olímpia, do Paraguai, em vitória por 3 a 0, e voltou a dominar o mundo.
Foi o último título daquele Milan, e Sacchi só ficaria mais uma temporada até ir comandar a seleção italiana. Mas a equipe, o Super Milan, ficou marcada na história do futebol.
Para a revista inglesa World Soccer, foi o maior time de futebol de clubes da história, e só perdeu para as seleções da Hungria (década de 1950), Brasil (década de 1970) e Holanda (década de 1970).