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      Na Terra do Soccer
      Carlos Ramos

      Diferença de projetos: a lapidação do craque é a lapidação do soccer

      2024/04/08
      E0
      A América do Norte é a terra do Donuts, do Maple Syrup, do Poutine, de calor e frio extremo. Do basquete da NBA, do hockey da NHL, do baseball da MLB. E também é a terra do soccer.

      O adolescente Cavan Sullivan conquistou, no fim de semana, a Adidas Generation Cup com o time sub-17 do Philadelphia Union, que havia eliminado o Flamengo nas semifinais. Sullivan, alvo de Bayern de Munique, Real Madrid, Borussia Dortmund e PSG, já tem acordo para reforçar no futuro o Manchester City. A joia estadunidense nasce de um projeto de futebol a longo prazo, com especial zelo pela formação dos atletas. 

      Ao longo dos últimos anos, vimos potências econômicas usarem o futebol como arma de legitimidade internacional. Craques que brilhavam em grandes equipes de ligas de ponta da Europa começaram a se mudar para a China, para a Arábia Saudita. A Rússia também teve seus momentos. 

      A Superliga Chinesa chegou a ter nomes como Nicolas Anelka, Didier Drogba, Fellaini, Hulk, Oscar e Paulinho. O Zenit, de São Petersburgo, superou os 40 milhões de euros em investimentos para contratar Malcom, Witsel e Hulk, enquanto o Anzhi beirou o valor para ter Willian. Hoje, jogam na Arábia Saudita Cristiano Ronaldo, Sadio Mané, Neymar, o próprio Malcom, Brozovic, Mitrovic, Roberto Firmino, entre outros. 

      A MLS, por outro lado, é vista por muitos como uma liga que só aposta em veteranos. De fato, o é em muitos momentos. Não tem como refutar tal argumento em uma liga que, na atual temporada, junta Lionel Messi, Luís Suárez, Jordi Alba e Sergio Busquets. Mas o futebol norte-americano, especificamente em Estados Unidos e Canadá, tem, também, um projeto para o longo prazo. 

      A lapidação do talento 

      Futebol é, acima de tudo, negócio na América do Norte. Aqui, perceberam que uma liga, além de receita com direitos televisivos, vendas de camisas e ingressos pela aparição de craques internacionais, pode ser um negócio lucrativo também com a transferência de jogadores. Descobriram que o futebol é um esporte diferente do hockey, do futebol americano, do basquete.

      Formar jogadores já era um negócio lucrativo na América do Norte. Mas não para alta performance. Com a popularidade do soccer crescendo, os pais passaram a ter uma nova opção de esporte de verão para os filhos. Um esporte que poderia, também, ser opção para aquelas famílias que não tinham condições de investir em equipamentos para o hockey, esporte mais popular no Canadá. A explosão do soccer foi a explosão das academies

      As academies funcionam como "escolinhas" de futebol. Seja para uma prática recreativa como, também, para a evolução para o âmbito profissional. Cada região tem sua pirâmide de futebol que pode levar, ou não, ao profissionalismo. Pode ter o objetivo, também, educacional, na busca por uma bolsa em uma universidade.

      click para os clubes profissionais darem mais atenção para a formação de jogadores demorou um pouco (e ainda demora, em alguns casos). Os clubes da Canadian Premier League, única liga profissional exclusivamente do Canadá, não têm divisões de base. Alguns têm equipe sub-23. E só. A base é feita em academies menores, que não completam o pathway para o profissional. 

      Os clubes da Major League Soccer, entretanto, investem cada vez mais nas suas camadas jovens. E a liga, por sua vez, entende a importância do processo de formação dos atletas para o desenvolvimento do esporte e, consequentemente, o desenvolvimento da própria liga. Tanto que, neste ano, criou o Development Grant Program, um programa que estimula as academies formadoras. Desde que a escolinha seja vinculada a liga, a academy participa de um programa de bonificação pela formação de jogadores de alta performance.

      Um atleta formado por uma academy pode render a mesma um retorno financeiro caso assine contrato profissional com uma equipe da MLS. O valor pode ficar maior caso o atleta atinja certas metas, como, por exemplo, número de jogos na liga. É uma espécie de mecanismo de solidariedade interno. Estimula as academies a formarem jogadores para a liga. 

      O prodígio Sullivan

      Nascido na Philadelphia, Sullivan se juntou a academy do Philadelphia Union ainda em 2020, junto com seu irmão, Quinn Sullivan, que hoje já está no time profissional do Philadelphia Union. A ascensão foi meteórica. 

      O adolescente logo passou a pular etapas, figurou nas seleções de base dos Estados Unidos e foi campeão e melhor jogador da Copa da Concacaf sub-15 em 2023, conquistada em cima do México. A superioridade dos Estados Unidos sobre os mexicanos, já mencionada aqui, acontece, também, na base. 

      Os pais de Cavan jogaram futebol universitário, e seu avô jogou e treinou equipes de futebol, sendo o técnico, inclusive, de Jim Curtin, comandante do time principal do Philadelphia Union. A cultura do futebol estava intrínseca na família. 

      Mas a família Sullivan é, hoje, apenas mais um exemplo de como o soccer se desenvolveu na América do Norte. Cavan é um ponto fora da curva, um fora de série. Mas é mais um exemplo de que o projeto de futebol na MLS vai além do hoje. É um projeto a longo prazo. 

      Na própria Adidas Generation Cup que o Union superou o Flamengo no caminho até a final, o L.A Galaxy eliminou o River Plate. No sub-15 do mesmo torneio, o Toronto F.C deixou pelo caminho o Sporting, de Portugal, e o Arsenal, da Inglaterra. 

      A formação do talento na América do Norte ainda tem muitos preconceitos para derrubar, e barreiras para romper. Mas é inegável que existe um projeto a longo prazo que já colhe frutos no presente. Um projeto diferente de outras ligas que emergiram nos últimos anos. Diferente do (projeto) da própria MLS há alguns anos. A lapidação do craque é, ao mesmo tempo, a lapidação do soccer



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