Para muitos, Lionel Messi é o maior jogador argentino de todos os tempos. Outros defendem Diego Armando Maradona, um Deus na Argentina. Mas antes dos dois craques, o país teve uma lenda que se chamou Alfredo Di Stéfano Laulhé, consagrado também em Madri.
Di Stéfano começou a jogar em 1945 no River Plate, quando os Millionarios tinham La Máquina, um ataque composto por Pedernera, Juan Carlos Muñoz, José Manuel Moreno, Angel Labruna e Félix Loustau. Sem espaço, Di Stéfano acabou emprestado no Huracán.
Com o bom desempenho pelo Globo, Di Stéfano voltou mais maduro para o River e passou a ser integrante da Máquina. O clube seguiria no topo do futebol argentino e o atacante terminaria 1947 já como o principal goleador do país, com 27 gols em 29 partidas.
Naquele mesmo ano, Di Stéfano disputou sua primeira (e única) Copa América. Os argentinos acabaram campeões e Di Stéfano foi o vice-artilheiro, com seis gols em seis jogos, atrás do uruguaio Nicolás Falero, que somou nove tentos.
A saída da Argentina
Di Stéfano jogou no River Plate até 1949. Na época, o futebol argentino vivia uma crise, com o protesto dos jogadores por melhores condições de salários e direitos trabalhistas. Sem acordo com os clubes, o futebol parou e muitos atletas optaram por deixar o país.
Di Stéfano foi um deles e, ainda em 1949, se mudou para a Colômbia, onde jogou no Millionarios. O futebol colombiano, sem estar filiado a Fifa, atraiu grandes nomes do futebol naquele momento e Di Stéfano se juntou a Adolfo Pedernera, outro ídolo ex-River e campeão com a seleção argentina.
A liga ficou conhecida como Liga Pirata e o Millionarios foi o grande campeão do período. Com um grande time, viajou para a Europa para fazer uma excursão em 1952 e enfrentou o Real Madrid no jogo de 50 anos dos Blancos. Di Stéfano marcou dois gols, o Millionarios venceu por 4 a 2 e o argentino acabou contratado pelo Barcelona. Mas não por muito tempo...
Clássico fora do campo
O Barcelona chegou a um acordo com o River Plate, clube que detinha os direitos de Di Stéfano legalmente, e o argentino foi para a Catalunha como uma grande contratação. Só que o Real Madrid, por outro lado, agiu nos bastidores e negociou a contratação com o Millionarios.
O caso foi parar no Governo Espanhol e o Ministro do Esporte, General Moscardo, decretou: Di Stéfano faria as quatro primeiras temporadas no Real Madrid, depois se mudando para a Catalunha para jogar outras quatro. Os catalães rechaçaram tal decisão e o argentino se mudou para a capital em definitivo, deixando o clima ainda mais quente entre os clubes.
O domínio de outro continente e o topo do mundo
Se Di Stéfano já havia defendido equipes soberanas na América do Sul, com o River, o Millionarios e a seleção argentina, em Madri fez parte de outro timaço, que seria dominante não apenas na Espanha, como no continente europeu.
Com um ataque ao lado de Gento, Kopa e Puskás, Di Stéfano marcou época nas décadas de 1950 e 1960 e deixou seu nome gravado no Real Madrid como um dos maiores, senão maior ídolo do clube. Foi a época de ouro da história merengue.
Di Stéfano foi bicampeão espanhol em seus primeiros anos nos Merengues e, na terceira temporada, disputou, como detentor do título nacional, a Copa dos Campeões da Europa. Fora uma derrota por 3 a 0 para o Partizan, que quase derrubou os espanhóis nas quartas, a campanha foi arrasadora, e Di Stéfano comandou o time até a final. O título vem de um 4 a 3 contra o Reims, de Kopa, com virada depois de 2 a 0 dos franceses iniciada pelo argentino.
Di Stéfano, e o Real, passaram a dominar o torneio. Depois com o acréscimo de Kopa, o time chegou a cinco finais seguidas, ganhou todas e em todos os jogos decisivos Di Stéfano marcou ao menos um gol, feito único até os dias de hoje.
No total, o argentino foi campeão espanhol oito vezes nos Blancos, conquistou uma Copa do Rei, cinco Copas dos Campeões e o primeiro Intercontinental, vencido em 1960 com um passeio em cima do Peñarol, de Alberto Spencer.
Passagem na seleção espanhola e fim de carreira
Campeão da Copa América pela Argentina e presente em amistosos pela Colômbia, Di Stéfano teve a chance também de vestir a camisa da seleção espanhola. Aliás, foi o país que mais defendeu, embora nunca tenha feito um jogo por Copas do Mundo.
O argentino até teve bons números pela Fúria, com 23 gols em 31 jogos, e participou das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1962, vencida pelo Brasil. O time espanhol tinha Puskás e Gento, mas perdeu Di Stéfano por lesão.
Depois disso, o atacante deixou Madri, depois de 305 gols em 392 jogos com a camisa do Real Madrid, e, finalmente, jogou na Catalunha. Não pelo Barcelona, mas sim com a camisa do Espanyol, chegando a encontrar o antigo clube duas vezes (uma derrota e um empate).
Carreira como treinador
Depois de pendurar as chuteiras, Di Stéfano fez carreira como treinador. Começou na Espanha pelo Elche, foi campeão pelo Boca e pelo River na Argentina e pelo Valencia na Espanha, com o título do Espanhol de 1971. No banco de reservas, reencontrou a torcida merengue e comandou o Real em duas oportunidades, vencendo apenas a Supercopa da Espanha em 1990, contra o Barcelona.
Presidente de honra do Real Madrid durante muitos anos, Di Stéfano nos deixou em 07 de julho de 2014, após não resistir a uma parada cardíaca. Deixou um legado de histórias, títulos e gols... Muitos gols!